A review by patriciasjs
A Senda Sombria by Guy Gavriel Kay

5.0

Último volume da Tapeçaria de Fionavar, este é o livro onde culmina a viagem de cinco jovens por um mundo paralelo, recheado de magia e seres inimagináveis, onde as lendas ganham vida e os mitos caminham ao nosso lado para a derradeira batalha contra o Mal, num cenário épico que habitou o imaginário de gerações de leitores.
Fantasia em estado bruto, sonhos no seu estado mais puro, é o que podemos encontrar nesta trilogia que após tantos anos ainda conquista fãs pelo mundo afora através de heróis de espadas, deuses e feiticeiros numa aventura à moda antiga mas que não perde qualidade, antes aumenta conforme nos aproximámos do fim. Naquela que poderá ser uma das minhas leituras descoberta do ano, descobri um autor e uma história que marcarão para sempre a minha visão deste género literário. Fã como sou das histórias intricadas, das voltas e reviravoltas, do desconhecido e das surpresas mais marcantes, dos mundos construídos ao pormenor, nunca pensei gostar tanto de uma obra tão simples e linear com esta é mas a verdade é que Guy Gavriel Kay é um mestre em unir elementos improváveis através de uma escrita fluída e magistral onde o timing nos corta a respiração.
Sendo o fim da trilogia, A Senda Sombria marca pelos momentos emotivos que se vivem ao longo das suas páginas, onde tudo pode acontecer e sofremos até a última linha para sabermos os destinos de todas as personagens que nos acompanharam ao longo destas páginas. Para mim, este é o livro mais forte da trilogia e acaba de uma forma tão soberba, sem ser perfeita, que satisfaz qualquer leitor que não se contente só com um “viveram felizes para sempre”. Tal como Martin, Kay não tem medo de seguir as linhas da história e se isso significar a morte, a perda ou o sofrimento, ele não se desvia do caminho. Cada acto é pensado para levar a outro, cada simples palavra ou decisão podem condenar ou levar à glória.
Por trás da simplicidade desta história, existem emoções fortes, momentos de uma beleza tão singular que só este tipo de escrita nos pode dar. Como final, este livro é perfeito. Se nos livros anteriores a qualidade da história vai melhorando, neste atinge o seu expoente máximo, em cenas épicas deslumbrantes que se desenrolam de forma natural e onde as emoções são levadas ao rubro.
Não sendo um escritor muito descritivo, Kay usa as sensações e os sentimentos para ligar o leitor à história através das suas personagens. Se a Tapeçaria de Fionavar é, no seu todo, rudimentar, as suas personagens já não o são. Complexas, vão crescendo de livro para livro, atingindo, a maior parte delas, o seu objectivo nesta recta final. Cada uma delas é diferente, cada uma tem o seu próprio destino. São únicas, insubstituíveis e a falta de qualquer uma delas teria desfeito esta “tapeçaria”. É através delas que sentimos e vivemos cada aventura, pois cada uma tem uma história pessoal, o que faz com que este livro tenha uma imensidão de histórias dentro da história.
No fundo, esta trilogia não podia ter um nome mais adequado, porque o que o autor fez, foi criar uma tapeçaria delicada onde cada nó, cada fio, contam para que a tapeçaria possa ser acabada de forma perfeita. Um dos exemplos de como o estilo de Kay é único, é o facto de ele conseguir unir tantas influências, tantas lendas numa mesma história de uma maneira que faz todo o sentido, não permitindo ao leitor questionar se fica ali bem no meio ou não. O todo faz com que esta história seja fantástica, do princípio ao fim.
Para quem ainda não leu este autor e sente curiosidade com a sua outra obra, Os Leões de Al-Rassan, convidou-vos a iniciarem-se na sua escrita por esta trilogia. Para além de ficar mais em conta, estarão a ganhar a oportunidade de ler algo viciante e que ainda mantém os moldes da verdadeira fantasia.

http://girlinchaiselongue.blogspot.pt/2012/07/opiniao-senda-sombria.html