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A review by ritaralha
O Mistério da Estrada de Sintra by Ramalho Ortigão, Eça de Queirós
4.0
O verão estava quente em 1870; o marasmo e a modorra tomavam conta da cidade de Lisboa, e Eça de Queirós e Ramalho Ortigão, ambos ainda jovens, decidiram brincar com os lisboetas. Conseguiram-no ao usar uma técnica inovadora de publicar a história em capítulos, criando a impressão de que se tratava de uma série de eventos reais narrados em tempo real. Os leitores, ávidos por novidades e entretenimento, seguiam a história com grande interesse, e muitos acreditaram que os eventos descritos eram verdadeiros, uma vez que a forma de publicação dava essa ilusão de autenticidade. Foram dois meses a gozar com a malta!!
A história começa quando um médico e um amigo seu, ambos a cavalo, são raptados por um grupo de quatro homens mascarados na estrada de Sintra, entre São Pedro e o Cacém. São levados para uma casa isolada onde encontram um cadáver e são envolvidos numa série de eventos misteriosos. Os dois amigos, uma vez libertados, tentam desvendar o enigma por conta própria, encontrando um emaranhado de intrigas e amores ilícitos.
O Mistério da Estrada de Sintra é um exemplo muito interessante de como a ficção pode infiltrar-se na realidade através dos meios de comunicação. A sua publicação como folhetim mostra a habilidade dos autores em explorar os limites entre verdade e mentira, um fenómeno que vemos replicado de maneira amplificada no mundo actual das fake news. A história serve como um lembrete da importância de questionar e verificar as informações que recebemos, seja nos jornais do século XIX ou nas plataformas digitais do século XXI.
Alguns anos mais tarde, os autores diriam:
O que pensamos hoje do romance que escrevemos há catorze anos?... Pensamos simplesmente — louvores a Deus! — que ele é execrável; e nenhum de nós, quer como romancista, quer como crítico, deseja, nem ao seu pior inimigo, um livro igual. Porque nele há um pouco de tudo quanto um romancista lhe não deveria pôr e quase tudo quanto um crítico lhe deveria tirar.
Embora Eça de Queirós e Ramalho Ortigão tenham expressado um desdém pelo romance O Mistério da Estrada de Sintra anos depois de o terem escrito, considero esta avaliação demasiado severa e injusta. Sendo a primeira obra não corresponde à sofisticação e maturidade das suas obras posteriores, mas possui qualidades que não podem ser ignoradas e que merecem reconhecimento.
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A imagem é da 1ª publicação no D.N. em 1870.
Mistério com Y e Sintra com C
A história começa quando um médico e um amigo seu, ambos a cavalo, são raptados por um grupo de quatro homens mascarados na estrada de Sintra, entre São Pedro e o Cacém. São levados para uma casa isolada onde encontram um cadáver e são envolvidos numa série de eventos misteriosos. Os dois amigos, uma vez libertados, tentam desvendar o enigma por conta própria, encontrando um emaranhado de intrigas e amores ilícitos.
O Mistério da Estrada de Sintra é um exemplo muito interessante de como a ficção pode infiltrar-se na realidade através dos meios de comunicação. A sua publicação como folhetim mostra a habilidade dos autores em explorar os limites entre verdade e mentira, um fenómeno que vemos replicado de maneira amplificada no mundo actual das fake news. A história serve como um lembrete da importância de questionar e verificar as informações que recebemos, seja nos jornais do século XIX ou nas plataformas digitais do século XXI.
Alguns anos mais tarde, os autores diriam:
O que pensamos hoje do romance que escrevemos há catorze anos?... Pensamos simplesmente — louvores a Deus! — que ele é execrável; e nenhum de nós, quer como romancista, quer como crítico, deseja, nem ao seu pior inimigo, um livro igual. Porque nele há um pouco de tudo quanto um romancista lhe não deveria pôr e quase tudo quanto um crítico lhe deveria tirar.
Embora Eça de Queirós e Ramalho Ortigão tenham expressado um desdém pelo romance O Mistério da Estrada de Sintra anos depois de o terem escrito, considero esta avaliação demasiado severa e injusta. Sendo a primeira obra não corresponde à sofisticação e maturidade das suas obras posteriores, mas possui qualidades que não podem ser ignoradas e que merecem reconhecimento.
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A imagem é da 1ª publicação no D.N. em 1870.
Mistério com Y e Sintra com C