Quantos de nós alguma vez se permitiu pensar num mundo que não o que temos no presente ou que existiu no passado? Odo, a pensadora por detrás do modelo organizacional (ou desorganizacional) Anarresti criou uma ideologia tão forte que permitiu que tal acontecesse: um planeta árido com poucos recursos no qual a vida decorre sem leis ou prisões, sem moeda e de partilha plena. Mas será possível atingir-se a liberdade plena? 

A autora foi capaz de nos mostrar uma utopia (será?) que, apesar de otimista, não ignora as suas consequências e desafios, pelo contrário evidenciando-nas sem juízos de valor, permitindo que quem leia se questione acerca destas questões (serão as desigualdades inevitáveis ou imutáveis? o que é a liberdade plena? e o poder da maioria impede-na? pode uma ideia ser tão poderosa quando não há o poder do castigo?). 

Sem palavras caras ou juízos de valor, este é um livro que vale a pena para qualquer um que se permita ser crítico do meio onde vive e das suas próprias opiniões. Julgo que se este livro fosse escrito daqui a 200 anos teria exatamente o mesmo grau de relevância quanto hoje ou à data da sua publicação, há 50 anos.